Até onde pode ir um escritor para contar a sua história? Será possível escrever um livro com a própria vida? Transformar os próprios passos em capítulos, a identidade em um personagem e o mundo em leitores involuntários? Mais do que se perguntar tais questões, esses são os desafios que Edmundo Dornelles, desiludido revisor de textos e aspirante a romancista, se impõe. Já depois dos 40 anos, tendo gasto o pouco dinheiro da herança do pai e vivendo num pequeno apartamento em uma zona degradada de Porto Alegre, o amargurado Edmundo não obtém respostas das editoras sobre os originais que produz compulsivamente e vai acumulando uma raiva contida contra editores, escritores, críticos, sociedade, quase a humanidade em geral. Ao se tornar revisor freelancer da Editora Record, tem um laivo de esperança: crê que com seu contato com a assistente editorial Tatiana Fagundes e os inoportunos pitacos que dá sobre as obras que revisa, enfim conseguirá espaço. Só faltou o título nos brinda, magistralmente, com o seu narrador incontrolável disparando contra tudo e contra todos (do mercado editorial ao sistema judiciário), com lances de literatura policial, com cenas de tribunal e com humor, em um fluxo violento de pensamento, não deixa de refletir sobre estes e outros aspectos da literatura, do mercado editorial, da arte e até mesmo sobre questões cotidianas.