Este livro destaca a essencial prática de leitura e o contexto do detento que "lê" o espaço da prisão e suas relações com tal prática, além da estrita questão jurídico-penal do criminoso e crime cometido. Relação com um tempo - a partir do ócio em excesso, ou à disposição em exagero - bem diferente do tempo das pessoas livres - no geral, vivido como "quase ausência", face às atividades e obrigações diárias. Assim se contextua - liza a relação aflitiva tempo e prisão, ao longo desta obra, em tipo de inimigo cruel que deve ser vencido. Como marca dessa relação, a referência temporal da pena se reveste, portanto, de outra pena imposta ao preso, que, para enfrentar esse ini - migo, busca engajamento em alguma ocupação que "mate" o tempo que ele tem disponível - em média, nas prisões brasi - leiras, 85% dos presos ficam somente duas horas fora de cela, passando o restante do dia dentro dela, imerso nela, absorvido por ela. Tal realidade é invencível, mesmo institucionalmente, pois são muito poucas as atividades e projetos educacionais desenvolvidos, em espaços apropriados, com foco na realidade carcerária. Ainda, a carência de tais atividades e projetos, como "ler", associada a condições superprecárias de encarceramen - to, compromete um objetivo de cumprir pena no Brasil, que é a ressocialização. Nesse contexto, resta ao preso aguardar seu tempo de pena ociosamente na cela ou no pátio, à mercê, por exemplo, da eficaz ação cooptadora de facções. Enfim, este livro não só propõe que presos "leiam", como apresenta elementos para uma leitura produtiva e mesmo prazerosa.