As comunidades pesqueiras litorâneas apresentam realidades diversas que revelam sempre um conhecimento particular sobre seu modo de viver. Nesse sentido, buscamos desenvolver uma pesquisa para reflexão sobre a tradição em três comunidades localizadas às margens dos estuários dos rios Goiana e Megaó, dentro da Reserva Extrativista Marinha Acaú/PB-Goiana/PE, criada em 2007 e situada na divisa dos estados da Paraíba e Pernambuco. O campo escolhido deu-se pela predominância da pesca artesanal, apesar da inserção de novos moradores, empreendimentos, pescadores de outros estados, impactos gerados com o crescimento desordenado, entre outros fatores que se interpuseram aos espaços comuns de moradia, trabalho e sociabilidade comunitária. Aspectos dessa mudança são descritos tendo como fio condutor a memória e a tradição. No curso da sociologia e antropologia marítima e pesqueira, foram focadas as mudanças socioculturais que os estuarinos que vivem às margens do rio Goiana e do Megaó vêm vivenciando desde sua constituição, notadamente, as histórias sobre o lugar, as estratégias de trabalho, de sobrevivência, o cotidiano difícil na maré e na “pesca” incerta, da organização social, as manifestações culturais e festividades, ou seja, o modo peculiar de vida daqueles que esboçam na prática pesqueira um conhecimento típico das populações tradicionais. A metodologia contou com a observação participante, recursos da história de vida e registros de depoimentos por meio da história oral. A etnografia sugere uma descrição analítica e descritiva de um modo de vida tradicional reelaborado pela dinâmica social, podendo, assim, contribuir para ações futuras de gestão na Unidade de Conservação (Resex Acaú-Goiana). A tradição é reelaborada e reinventada como forma de resistência da pesca artesanal frente às mudanças e aos impactos vivenciados pelos(as) pescadores(as) e “pescadeiras” de Acaú-PB, Carne de Vaca-PE, Povoação de São Lourenço-PE, perpassada nas relações sociais e de produção pesqueira e no modo de ser e fazer pescador(a) artesanal.