Pensar a tecnologia como uma realidade própria, em suas características gerais, não significa negligenciar suas mais variadas formas de manifestações concretas: o que apresentam de peculiar e irredutível, a exemplo da biotecnologia, dos artefatos bélicos, dos equipamentos e dos conhecimentos relacionados à informática, às telecomunicações, aos novos materiais, e assim por diante. Cada uma dessas formas tecnológicas concretas possui especificidades, no que concernem aos impactos introduzidos na sociedade - em termos de melhoria ou de ameaça à qualidade de vida -, aos diferentes tipos de reação social - de apoio ou de resistência - e às possibilidades de valorização ou de limitação da dignidade humana. Aborda-se a tecnologia como um fenômenodistinto na sociedade, com o cuidado de não se cair naquilo que alguns autores consideram uma excessiva abstração ou generalização da tecnologia. Nesse sentido, cabe lembrar a crítica que se faz do tratamento genérico da tecnologia realizado por Heidegger. De acordo com essa crítica, Heidegger estaria negligenciando o conhecimento de novidades importantes no fenômeno tecnológico contemporâneo, e superestimando determinados efeitos negativos da tecnologia (relacionados à dominação humana), em detrimento de tantas outras possibilidades emancipatórias, a exemplo das novas técnicas para aumento da longevidade, das novas biotecnologias agropecuárias para a produção em áreas de baixa fertilidade, das modernas tecnologias de informação e de muitasoutras situações em que são evidentes as conquistas humanas. Tudo isso exigiu cuidadoso estudo de muitas discussões e do material empírico levantado, para relacionar adequadamente as características mais gerais da tecnologia às peculiaridades de umade suas formas atuais de maior impacto - a chamada bioprospecção -, e para não cair em esquemas analíticos muito simplificadores e com grandes apelos ideológicos.