Publicado na França em 1972 – e até agora inédito
no Brasil –, este livro traz um conjunto de estudos
pioneiros de Roger Bastide, sociólogo e antropólogo
que fez parte da missão francesa que ajudou a criar
a Universidade de São Paulo e foi um dos principais
pesquisadores das religiões afro-brasileiras.
Na contramão das interpretações racionalistas e
científicas, inclusive da psiquiatria e da psicanálise,
Bastide postula que o sonho, o transe e a loucura não
podem ser explicados apenas pela história pessoal
dos indivíduos, mas precisam ser entendidos em sua
dimensão social e mítica.
O autor parte de estudos feitos no Brasil e na África
para desvendar como esses processos psíquicos
são vistos, em determinadas sociedades, como uma
forma de comunicação entre a cultura e o sobrenatural,
o profano e o sagrado.
No mundo ocidental, segundo Bastide, rompemos
com esses canais de comunicação. “Aprisionamos
nossos sonhos e os ensinamos a falar a linguagem
da natureza, para transformá-los no desvendamento
simbólico de nossa história e não mais da história dos
deuses”, escreve o sociólogo. O livro traz ainda importante
análise dos efeitos da escravidão e do racismo
no psiquismo brasileiro.