A Guerra Fria criou dois sistemas antagônicos após a derrota da Alemanha nazista. De um lado os capitalistas de Washington pretendiam impedir que a União Soviética se transformasse em um império socialista mundial; do outro, os comunistas de Moscou formaram um enorme bloco de países socialistas satélites separados do restante da Europa por uma Cortina de Ferro , que os apartava de quaisquer interferências ocidentais. No campo cultural é inegável que o totalitarismo imposto por Stálin na União Soviética, e difundido a todos os países que formaram o bloco comunista do leste europeu, trouxe as manifestações artísticas em geral, incluindo a música, para o crivo do controle político. Com a morte do Grande Líder e a desestalinização ocorrida a partir de 1956, os primeiros sopros de vanguarda começaram a aparecer no leste europeu, especialmente na Polônia graças ao festival Outono de Varsóvia, permitindo a livre expressão de ideias e o início de um importante intercâmbio entre músicos de diversas tendências, mesmo que sob o olhar atento das autoridades comunistas. Em Sons por Detrás da Cortina, sua mais nova imersão pela música clássica do século XX, o pesquisador Marco Aurélio Scarpinella Bueno aproxima compositores conhecidos como Witold Lutoslawski, Krzystof Penderecki e György Ligeti de seus pares menos famosos (e igualmente talentosos) como o tcheco Marek Kopelent e o alemão Udo Zimmermann, contextualizando suas vidas e criações musicais a importantes eventos históricos como o festival Outono de Varsóvia, a Revolução Húngara, a Revolução de Veludo ou o surgimento do Muro de Berlim. Desta forma, a leitura de Sons por Detrás da Cortina propõe uma melhor compreensão de como foi tênue o equilíbrio entre o isolacionismo cultural do leste europeu e a crescente influência exercida pelos movimentos de vanguarda do pós-guerra, até a queda do Muro e a consequente derrocada da União Soviética.