O carioca Marco Antonio de Queiroz descobriu-se diabético aos três anos, sofreu com o fantasma da impotência ainda jovem, ficou cego aos 21 e teve de enfrentar dois transplantes: de rim e pâncreas. Porém, quem espera se debulhar em lágrimas ao ler Sopro no Corpo: VIve-se de Sonhos terá uma decepção (ou, melhor, uma boa surpresa), pois Marco Antonio optou por narrar sua vida da mesma forma que a leva, com bom humor e suavidade. Em momento algum o autor demonstra pieguismo e autocomplacência ou ousa dar lição de moral, mas não há como não tirar uma lição de vida desta sua narrativa simples e direta. Sopro no Corpo: VIve-se de Sonhos está dividido em duas partes: "Com o Sol no Meio da Testa" (reedição) e "Presentes da Vida" (inédito). Na primeira parte, Marco Antonio, então com 28 anos e preso à cama por conta de um grave acidente de moto, nos fala de sua diabetes, de seu contato com as drogas, da impotência que resolveu se manifestar justamente na juventude, das vezes em que teve de rever antigos valores, como o machismo, e, obviamente, da cegueira, que aos 21 anos conseguiu o que a diabetes não havia conseguido até então: mudar o rumo de sua vida. Já em "Presentes da Vida" surge o MAQ (iniciais de Marco Antonio de Queiroz) de 20 anos depois, mais maduro e, portanto, mais consciente do que a vida lhe reservou, mas nem por isso amargo ou com panca de herói. Continua a superar as limitações físicas, a encarar de frente os preconceitos e, acima de tudo, a rejeitar estigmas, mas desta vez tendo a seu lado, além da esposa Sônia, o tão esperado filho Tadzo e os amigos que sempre o apoiaram. Não é possível não se emocionar com sua "sorte" quando enfim opta por fazer os transplantes. Embora a vida às vezes pareça querer mostrar o contrário, Marco Antonio reconhece que sempre está no lugar certo na hora certa, ou como ele mesmo diz: "Nasci com o rim virado pra lua".