O livro aborda aspectos menos evidentes, porém não menos reais, significativos e esclarecedores relativos ao conflito. Assim, o objetivo central da obra não é descrever e analisar combates, bombardeios, destruição, ou comentar o emprego de armamentos, tampouco indicar números de mortos e feridos, embora isso também seja tratado sempre que necessário para o desenvolvimento da reflexão. Tomando por princípio que a guerra moderna, na sua forma de guerra total, não está restrita aos campos de combate ou à atuação militar, o que se propõe aqui é uma reflexão em torno de singulares e ilusoriamente singelas armas amplamente empregadas nos idílicos tempos da Belle Époque. Ou seja, trata-se de cartões-postais de conteúdo iconográfico belicista produzidos antes e durante a Grande Guerra. Eles são descritos e analisados de forma a desvelar seu papel de mobilização de militares e civis, tomando como exemplo o caso francês. Constata-se que se tratava de pequenos souvenirs cujas funções estavam então profundamente ligadas às duas acepções do termo: eles, singelamente colorizados à mão, eram enviados no intuito de presentear seus destinatários, mas também atuavam no sentido de buscar manter e reafirmar na memória elementos enraizados no imaginário social do período. Por isso, tratando da guerra, os postais se mostram reveladores de percepções relativas à virilidade e feminilidade – entre tantos outros temas que se poderia explorar -, na forma como tenderam então a ser pensados na França. Indo além e a título de comparação, a obra também analisa exemplares produzidos na Alemanha naquele mesmo contexto. Pretende-se assim proporcionar ao leitor elementos a mais para a análise e a reflexão em torno de aspectos ainda pouco explorados associados à Grande Guerra, conflito inaugurador do trágico século XX.