Stanislávski escolheu Um Mês no Campo, de Ivan Turguêniev, para aplicar pela primeira vez seu sistema, tendo em vista que o estudo psicológico minucioso orquestrado pelo dramaturgo e os elementos sociais que retratava tornavam-na a obra ideal para testar suas novas diretrizes. Na peça, a verdadeira ação e os conflitos acontecem no interior das personagens, daí a necessidade de descobrir a melhor maneira de desvendar e expor suas almas. A montagem, acompanhada pari passu neste estudo da pesquisadora e atriz Simone Shuba, foi um marco na trajetória do encenador russo. No seu contexto, ideias e relações surgidas em trabalhos anteriores receberam um grande estímulo, levando a uma síntese sobre um problema vital da estética em geral e do teatro em particular: a relação entre a vida e a arte. A profundidade alcançada deu à estreia da peça, em 9 de dezembro de 1909, um lugar definitivo na história cultural e teatral de nosso tempo, realçando o papel de uma figura cujo trabalho artístico estava em constante devir, como expressa o título deste livro, Stanislávski em Processo, ou seja, na realização das grandes mudanças e descobertas que viriam a ser parte integrante da epopeia histórica do Teatro de Arte de Moscou.