Por volta de 1890, começou-se a falar na Alemanha de duas filosofias que não admitiam nem o altruísmo moral, nem a solidariedade social. Stirner, que não havia gozado em vida senão de uma efêmera glória, acabara de ser ressuscitado por um discípulo fanático, John Henry Mackay, que via no autor de O Único e sua Propriedade o teórico do anarquismo contemporâneo. Por outro lado, Nietzsche, por tanto tempo 'inatual', impunha-se à opinião pública no momento mesmo em que a enfermidade triunfava definitivamente sobre sua razão, e tornava-se pouco a pouco um dos favoritos dessa moda europeia que ele havia tão duramente julgado. Era natural que aproximassem os nomes desses dois filósofos, cujas ideias opunham-se tão claramente às ideias correntes; habituou-se a ver em Stirner um precursor de Nietzsche. Mas há motivo para nos perguntarmos se esse hábito é justificado. De início, é verdade que Stirner teve uma influência sobre Nietzsche? É justo, em seguida, considerar suas filosofias como dois sistemas análogos e animados do mesmo espírito? É legítimo aproximar Nietzsche de Stirner e falar de uma corrente individualista, anarquista ou imoralista?