Até que ponto o sexo é um fator determinante no modo como lemos e escrevemos? Qual a diferença se uma obra artística foi criada por um homem ou uma mulher? O debate dessa questão no meio intelectual pode não ser tão simples quanto se imagina. A escritora e editora americana Wendy Lesser aborda este enfoque em 'Sua cara-metade - A mulher na arte segundo a perspectiva masculina'. Através de uma leitura psicanalítica, ela investiga o relacionamento dos homens com o feminino - e, nesse caso, o modo como isto se manifesta nas obras de arte. A autora disseca obras literárias de mestres como Lawrence, Dickens e Henry James; as fotografias de Degas e Cecil Beaton, os filmes de Alfred Hitchcock e Preston Sturges. Grandes criadores que sofreram pressões e ouviram com freqüência acusações de misoginia. Eles produziram romances, fotografias, poemas, filmes e esculturas, tendo a mulher como tema, objeto, leitmotiv, inspiração... É ela, a chamada cara-metade, que está em exposição pública. "Ao abordar esse tema, espero também fazer descobertas mais amplas sobre como a arte funciona. Penso que toda arte deve conter conflito e resolução, não necessariamente em quantidades equilibradas", escreve Wendy Lesser. Com salpicos de humor, a autora deixa bem claro que não pertence a nenhuma corrente feminista e nunca achou a menor graça na divisão rígida dos "estudos femininos". Portanto, dá para imaginar sua própria surpresa quando decidiu examinar a obra produzida pelo sexo masculino. "Se a arte transcende o sexo, como acredito e sustento, por que as obras de arte dos homens seriam, de alguma forma, diferentes das de seus semelhantes?", questionou-se. Shakespeare é um exemplo de artista que sempre soube equilibrar feminino e masculino - vide 'Romeu e Julieta', entre tantos outros. Já o artista plástico Vermeer, segundo ela, "se dirige sempre a nós como machos ou fêmeas".