O leitor interessado na área de saúde mental encontrará neste livro um relato múltiplo apaixonante de histórias subjetivas marcadas por intervenções psicanalíticas em diversas formas de dispositivos grupais em várias formas institucionais. Encontrará também a história da psicanálise em grupo, com grupo, através do grupo, em um rico desdobramento conceitual. Os psicanalistas, ao longo do tempo, transformaram a materialidade do divã em uma ?gura de metáfora-um divã com asas- a ser transposta a qualquer situação onde a associação livre e a atenção flutuante demandem novos dispositivos para se reinventarem para além da neurose: psicose, borderline, adolescentes difíceis, crianças autistas, explosivas, bebês, famílias, psicossomática, desa?os pedagógicos e a própria neurose em tempos difíceis ou novos. Eu é outro. A constituição do eu se dá por identi?cações múltiplas e por isso cada um carrega em si múltiplos grupos constitutivos através de sua história singular. Quando algo falha neste tecido de base, há que ser reconstituído ou criado com inventividade, numa aposta de que algum laço social é possível, um vínculo de pertencimento com o outro, em algum grupo. Esta aposta é na mutação do sofrimento e da dor para que o existir, o ser, a vida pulsional faça sentido e um projeto desejante possa desenhar uma singularidade, nas suas ín?mas grandezas cotidianas. Objetos intermediários são criados para este ?m: as fotos, as o?cinas de arte, o humor, as contribuições ?gurativas. Facilitam estratégias e intervenções, construções e interpretações que permitem ao psicanalista em grupo e instituição o acesso à expressão de uma fala em constituição a partir de uma abertura ao sempre incerto do encontro, prenhe de criações ou frustrações. Todo grupo, diante de um escopo, de uma tarefa, cria um inconsciente grupal com conteúdos fantasmáticos e defesas que possibilitam ou impedem o grupo realizar o que se propõe, que é outro do que a somatória de inconscientes singulares. Este livro foi editado pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo, resultado de dois colóquios sobre grupo e instituição realizados em 2013 e da colaboração de psicanalistas franceses. Esta Instituição por quatro décadas organiza-se em grupalidades de forma democrática para realizar formação freudiana, pesquisa, produção escrita e oral, com uma concepção da psicanálise inscrita no tempo histórico e político das demandas variadas e mutantes da saúde mental na cidade e no país, sempre em contato com o mundo.
Renata Udler Cromberg