Sem falsos pudores e muitas vezes sacrificando as boas maneiras das convenções acadêmicas para desvendar - considerando-se que ainda é possível - mais sobre o que homens e mulheres fazem entre quatro paredes: assim, G. S. Rousseau e Roy Porter organizaram 'Submundos do sexo no Iluminismo'. O livro, composto por dez ensaios, mostra que a liberdade significava principalmente liberdade para homens, aumentando a divisão sexual do trabalho e contribuindo para a angelização da mulher, cujo clímax é afigura da esposa vitoriana frágil. As conseqüências desse equívoco ainda ressoam hoje em grandes contingentes de mulheres. Foi no século XVIII que a masturbação começou a ser vista como moralmente perniciosa e que as ninfomaníacas despontaram nos primórdios da psiquiatria. Foi também no apogeu da Era das Luzes que o homossexual masculino começou a ser demonizado pelo povo. Tudo isto ganha novos insights nesta obra que, por sua originalidade, revela que muito ainda há por conhecer sobre a sexualidade no Iluminismo. 'Submundos do sexo no Iluminismo' inaugura novos campos para pesquisas que, ao se concentrarem tradicionalmente nos grandes textos de libertinos notáveis, perderam a dimensão da vivência da sexualidade de grandes parcelas da população no século XVIII. Metáfora de um mundo em que todos vivem personalidades emprestadas, o baile de máscaras londrino, por exemplo, é belamente retratado por Terry Castle. Já Roy Porter delineia a economia do decoro de uma sociedade moralista que via no médico-parteiro um usurpador da mulher alheia. Enfim, o vasto mundo da prostituição, da pornografia, das fantasias - os submundos - estão todos neste livro.