Psicose, sujeito, teoria e clínica. Conhecemos muito bem a complexidade que circunda essas noções, principalmente quando se trata de articulá-las para melhor situá-las e entendê-las. Tarefa nada fácil a que se propôs Suely Aires. Sua hipótese, a saber, é defender que os questionamentos lacanianos em torno da noção de sujeito procedem da clínica, mais especificamente, da clínica das psicoses. Qual, então, a novidade? Apesar de aparentemente simples, tal hipótese sempre foi desconsiderada no campo filosófico. Chamo atenção, portanto, para uma primeira grande dificuldade, enfrentada pela nossa autora: o fato de que nem sempre é possível percebermos qual o papel do sujeito na obra de Lacan, visto que seu movimento, na tentativa de isolá-lo (o sujeito), assume formas as mais diversas em pontos diferentes do seu ensino, sendo que nem todas essas formas parecem convergir para qualquer conceito de subjetividade de fácil identificação. Sendo assim, não há a possibilidade de se evidenciar a existência de um sujeito lacaniano, visto que a sua demonstração nos é impossível. Para Lacan, o sujeito nunca é mais do que suposto, isto é, nunca é mais do que uma suposição de saber de nossa parte. O pensador esloveno Slavoj Zizek, por exemplo, para falar desse sujeito, direciona o foco do seu interesse sobre uma certa falta/excesso na ordem do ser, o que se mostra fundamental, na medida em que, em cada um desses casos, haverá sempre uma evidência crescente na negatividade, enquanto pano de fundo essencial de todo ser. Seria, entretanto, nessa perspectiva, que ele afirma uma visão da subjetividade como algo que manifesta uma passagem pela loucura, numa tentativa ininterrupta de imposição de uma integridade simbólica, diante de uma constante ameaça de desintegração e negatividade. E é, pois, por essa passagem pela loucura, mais especificamente pela clínica das psicoses, que a nossa autora desenvolve a sua pertinente defesa, nos apresentando um instigante e exitoso texto