Marcos Érico de ARAÚJO SILVA convida Kierkegaard e Heidegger como interlocutores para pensar o sentido do filosofar. Para eles, as tonalidades afetivas são as referências primordiais para se compreender a tarefa de filosofar, que exige do filósofo múltiplas elaborações do pensamento que lhes conduzem para variadas colorações do pensar filosófico. Nesse sentido, todo filosofar parte do legado da tradição já consagrada, mas sempre vai mais longe. Na caminhada de ir mais adiante sem perder as referências do passado, todo filósofo se esforça em apresentar tonalidades próprias de seu pensamento. A palavra de ordem é ressignificar. Ofertar novos sentidos à tradição a partir do pensamento dos filósofos ilustres.
Não se é filósofo acolhendo e sustentando o pensamento hegemônico. É preciso uma atitude de desconstrução para alcançar o não saber e, desse modo, alçar voou em direção ao saber. Não se faz filosofia sem paixão. É pelos caminhos do páthos do filosofar que Kierkegaard e Heidegger se encontram para colocar as tonalidades afetivas como arché do filosofar.
O texto de Marcos Érico nos coloca numa atmosfera em que a filosofia se faz pelo paradoxal ou enigmático e não pelo pensamento claro e distinto. Não se pode filosofar sem o esforço tradutivo de desejar dar sentido ao mundo que nos afeta e que nós o afetamos. É na troca de afetos que nasce a serenidade do pensar filosófico. O enquadre do filosofar não é da estabilidade do pensamento cintilante, mas do abismo caliginoso de nunca saber.