Waly salut au monde. O fecho de Cântico dos cânticos de Salomão pode ser tomado como o cartão de visitas do novo livro do eternamente irrequieto Waly Salomão. Pois são viagens por mundos diversos, concretos e oníricos o que o poeta baiano de sangue sírio explicita e propõe nos poemas de Tarifa de embarque, coletânea que sucede Lábia, lançado em 1998. Se no primeiro a urgência de renovar e celebrar os votos de união com a vida se fazia mais do que presente - no início daquele ano o coração do poeta pregou-lhe um susto com um enfarte - neste, o que o leitor vai encontrar é um Waly que engole o mundo com sua poesia. Uma poesia rasgada por imagens de cenários tão distintos e sólidos quanto a Amazônia, a mineira Tiradentes, a Bahia, o Rio, a Síria. Uma poesia erguida sobre imagens tão vaporosas, mas nem por isso menos contundentes, extraídas das memórias de vida, de amizades, de afetos fraternos. Janela de Marinetti, por exemplo, é uma comovente trança de lembranças que ele dedica ao irmão Jorge, de amores, de dores, de prazeres, de mundos internos. Nesse encontro antropofágico, entre os muitos caminhos seguidos e ainda por seguir, entre os muitos mundos descobertos e por descobrir, Waly exacerba sua vocação para o nomadismo, para a inquietude saudável que o faz percorrer de peito aberto as trilhas escancaradas por sua poesia. Não por acaso, na abertura de Tarifa de embarque, o tocante poema-título que canta as belezas e saudades de uma Síria entranhada no sangue que lhe corre nas veias, Waly recorre a uma frase de Meleagro de Gádara (100 a.C.): "Sou sírio. O que é que te assombra, estrangeiro, se o mundo é a pátria em que todos vivemos, paridos pelo caos?" Waly saúda o mundo. E como um bom mercador de significantes e significados, o faz através de seus versos múltiplos, às vezes discretos, às vezes bailarinos das letras e dos espaços.