Por que Tchékhov ainda nos interessa? A pergunta é enfrentada desta vez por este livro de Rodrigo Alves do Nascimento, já a partir de hoje obrigatório. Ele levanta todas as variáveis da recepção da cena tchekhoviana no mundo, concentrando sua pesquisa nos palcos brasileiros.O teatro de Tchékhov firmou-se lentamente, pela novidade. Peças com cenas cortadas por pausas e ação indireta, conflitos em suspensão, humor fino e ácido, além disso admitindo o cômico, o riso e a crueldade, custaram a ser digeridas.Rodrigo acompanha esse percurso a partir do encontro de Stanislávski, Nemiróvitch-Dantchenko e Tchékhov no Teatro de Arte de Moscou, para a renovação do teatro russo, em 1896. Após vencer resistências e circular pelo mundo, esse teatro só chegaria ao Brasil cinquenta anos depois, em 1946, num teatrinho de estudantes pernambucanos.Rodrigo evita generalizações. Ele vai direto ao ponto. Assim, de 1946 a 2008, a moldura histórica deste ensaio abriga as diferentes interpretações de Tchékhov entre nós, recuperando textos críticos, traduções e edições, vídeos, notícias e fotos em torno de cada montagem. Esse trabalho exaustivo, que também leva em conta realizações estrangeiras, é examinado por um acurado estudo teórico-crítico sobre a recepção de Tchéckhov, sempre ao alcance dos solavancos políticos e das modas interpretativas.Hoje Tchékhov é um clássico. Mas, afinal, o que tem o Brasil a ver com esse autor irônico, crítico e concentrado? É preciso ler este livro para descobrir. [Vilma Arêas]