O livro de poemas, Te-sendo, tece uma argamassa formada por palavras, criatividade e afetos. E dessa argamassa resulta um texto com fios de sentido, de versos, diversos, com temas que se entrelaçam, formando uma teia estética de sabores atraentes, com fragrâncias reflexivas que abrem a visão do leitor para um mundo de perspectivas salutares e, não menos críticas. Trata-se de uma fazenda de estampas vivas, que se abre em mosaicos, em um tapete mágico, que propicia voos inimagináveis, no campo da imaginação. Mas tais voos não levam o viajante para um mundo distante. Se há um sertão, é o sertão do mundo. Tecer-se, nesse nosso “mundo líquido” , acelerado, só é possível, se o tecido resultante carrega em si, nuanças do outro. Tecer a si, sendo outro e sentindo o que o outro sente é o mote dessa obra poética. Por isso a obra se tece, te sendo.Neste seu quarto livro de poesia, Guinho (Idemburgo) Frazão oferece-nos uma grande mostra de sua capacidade de criação, a partir da potência do jogo de palavras, da reflexão crítica e da visualidade da poesia. Surpresa que nos captura a cada nova página, a cada novo poema e nos propicia o encontro com uma herança literária que remete ao poema-pílula oswaldiano, ao espanto do microconto e à herança concretista. Te-sendo conduz as formas poéticas ao amplo campo das possibilidades das palavras e da complexidade das questões sobre o ser e o existir. Exercício de equilibrar versos, explorar os espaços no fecundo caminho que une o prosaico e o excepcional em nossa existência. Frazão cria poemas sinuosos, intertextuais e resgata o catador de feijão cabralino para lembrar da colheita das palavras e de como a poesia pode ser “catada” nos momentos simples como se nos dissesse que há uma epifania no meio do caminho. É um livro que cose com as palavras, trama de tecidos cujo fio solto a nos puxar é a poesia potente e estelar.Fabiana Bazilio FariasDoutora em Literatura Comparada e Mestre em Literatura Brasileira.