Zeca Ligiéro nos aproxima das nascentes do teatro, não com uma volta ao passado, mas bebendo da fonte viva do presente. Parece nos dizer que o teatro é o que é no seu nascedouro, parte inseparável da vida humana, em todas as dimensões do tempo e do espaço. Para buscar os seus nascedouros, Zeca preferiu correr mundo procurando suas diferentes motrizes, tal qual ele chama. Desdenhou suas fontes europeias ocidentais e adentrou aos continentes por elas colonizados, em busca de origens obscurecidas pelo pensamento dominante. Abriu as fronteiras entre a ciência acadêmica e os saberes ancestrais dos povos naturais, comparou erudições, mesmo que algumas vezes forçando a barra dos parâmetros estabelecidos pelas universidades. Nos escritos de Zeca Ligiéro, o teatro não está confinado aos espetáculos em palcos à italiana. Manifesta-se das formas mais inesperadas e insuspeitas às percepções desavisadas. Cultivado por todos os povos, o teatro por ele estudado anima os corpos e cultua o espírito de seres, em ritos e jogos, ao som de batuques e cantos, agitando vidas dançantes, na narrativa de mitos e contos. Daí sua eternidade. Para encontrá-los, o autor correu mundo e cruzou continentes, atravessou América, África e Turquia, consultou vasta bibliografia, visitou mestres e terreiros da tradição popular, releu minudências de diferentes origens, para nos munir de informações mais ricas sobre muitos deles. O que melhor desvela, evidentemente, são os mistérios das performances afro-brasileiras, por ele exaustivamente vivenciadas – mas pelas outras passeia com desenvoltura. Daí porque Teatro das Origens é um livro revelador. Ele nos dá a conhecer a arte/parte da vida de povos e nações marginalizados, com riqueza e complexidade. Saber/fazer de gentes íntimas da natureza, que com ela dialogam e nela se espelham em seus fazeres, inclusive cênicos. Nos leva às fontes dos teatros originais, alimento das mais significativas vanguardas artísticas da pós-modernidade. Religar-se à natureza, parece ser esta a mensagem, que Teatro das Origens deixa, boiando sobre os mares da imaginação, ao teatro e aos humanos. Até porque, como disse Lisandro Guarkax, artista maia, citado por Zeca: “No tempo em que Colombo veio à América para comprovar se o mundo era redondo, nossos avôs e avós maias (já) conheciam o universo”.