Se a ideia de evolução biológica já não é um tabu na Igreja católica desde o discurso de João Paulo II perante a Academia Pontifical das Ciências em 1996, há numerosos cristãos que a consideram difícil de aceitar. Mais de um século depois da publicação de A Origem das Espécies, trata-se, todavia, de entender os riscos que representa uma nova abordagem da vida, em particular desde o progresso da genética. A apreensão da criação pode ser renovada: já não é fascínio pelo primórdio, mas relação de origem entre Deus e as suas criaturas que faz de cada uma dentre elas um ser novo, singular, "original". A fé na criação não se reduz a uma teologia natural que põe em evidência as maravilhosas adaptações da natureza; ao reconhecer a parte de inevidência que resiste no seio da realidade e da sua história, celebra uma aliança entre o Criador e a sua criação, compreendida não como uma ordem natural imposta ao longo da história, mas como uma fidelidade divina e humana no seio de um mundo em transformação, marcado pelos acasos da vida e da morte, do amor e do pecado.