Ainda hoje há quem confunda Teologia com religião, sobretudo de vertente judaico-cristã, resultado de longo processo histórico. E mais: para muitas pessoas pode ser inimaginável que uma mulher curse teologia. Para quê? Para ser pastora ou tentar algum alto cargo eclesiástico? Maria Elise G. B. M. Rivas foi a única representante de instituição de ensino superior – A Faculdade de Teologia com ênfase em Religiões afro-brasileiras (FTU) – a participar das reuniões para a regulamentação do curso de Teologia e consequente elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais. O não-lugar de duplo estranhamento: uma confessionalidade afro-brasileira num local predominantemente de representantes de instituições mantidas por entidades religiosas judaico-cristãs, uma mulher no espaço de poder-saber decisório predominantemente masculino. O resultado desse embate, por assim dizer, histórico-cultural resultou em pesquisa de mestrado que agora a Arché publica no livro Teologia usa saias? Nesta obra, a autora parte de análise sócio-histórica para compreender, em primeiro lugar, como e por que a Teologia se consolidou profissionalmente como lugar de homens, sobretudo cristãos. Então, de que forma, com a instituição da Teologia como curso de ensino superior regulamentado, as mulheres começaram a participar também deste lugar, antes proibido, senão explicitamente, decerto moralmente. É um manifesto de resistência à opressão, ao preconceito, à naturalização da divisão e diferenciação, no caso por questões de gênero.