Trata-se de uma leitura obrigatória para todos aqueles empenhados
na decifração do contemporâneo. Utilizo este termo na acepção de
Giorgio Agamben. Contemporâneo, ele enfatizou, são todos aqueles
que reconhecem as luzes da razão, mas não se deixam seduzir por elas. Sob a luminosidade excessiva da razão e da racionalidade, existem sombras, escuridões, buracos negros, que precisam ser perscrutados, reconhecidos, admitidos.
[...]. Por isso, o modo de leitura deste livro é aberto e transpessoal. Cada um pode escolher o caminho que mais lhe convém. Caso prefira a linearidade pode seguir a ordem sequencial; caso opte pela surpresa, pelo descaminho, pela potência imaginária, pode reagir ao sabor dos vestígios do dia, das emanações do amor, das pulsões desejantes. No lugar de querer enquadrar-se nesse ou naquele complexo, deixar que emoções fluam, brotem livremente,
sem censuras ou recalques. Estamos diante de um mosaico incandescente que permite acessar a grande narrativa do mundo, da história, do indivíduo, da sociedade, da espécie e, com isso redefinir e reinventar nosso ser-no-mundo, reconhecer nossa impertinência, nossa pequenez diante da imensidão do cosmo.
Se parece óbvio que o mundo líquido requer urgentemente a reinvenção das instituições, o leque desse conjunto de complexos pode saturar a consciência do sujeito-leitor, inseri-lo em novas configurações e plataformas de tempo e espaço que lhe permitem romper com o conformismo que grassa por toda parte e, assim, acionar as comportas da revolta, da indignação, da esperança, em prol de um mundo mais justo e ético.
Prof. Dr. Edgard de Assis Carvalho