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Sinopse
Tudo foi consumido pelo tempo: os pais, a menina, o piano, no “voo definitivo das telhas”. Resta o cheiro repulsivo do que é roto e podre: “O ar tresanda a medicamentos.”O poema ficou perigoso: ele pode ferir, tem matéria: saliva, sangue, baba. Ou, como nos pesadelos, “canivetes pendurados e abertos: a ponta sobre os olhos”. “Humankind cannot bear very much reality”? A música da ausência é doída. O lar da infância continua amarrado ao corpo, com nós e raízes de parasita. É hora de habitar os próprios porões assombrados, e se submeter à vida que foge, roendo como traça os restos semidevorados ao nosso redor. Os corredores que terminam no nada: “Estamos todos lá fora://despejados.” O sentimento agudo da “ausência espessa”. Em meio às ruínas, resta a caixa de madeira, urna vazia. Oferenda à perda suprema: “Ah, o amor persiste ainda/na sombra que se estende//pela cadeia eterna das montanhas.”
Há um
intermezzo
, na segunda parte, “Parque de Diversões”, no qual a poeta se debruça às vezes com certo humor, na sua relação com outros escritores, sob a forma de cartas a eles endereçadas, ou mesmo entre eles (por exemplo, uma possível correspondência entre Florbela Espanca e Fernando Pessoa...). São diversas as referências para a inspiração, desde Jorge de Lima até Beckett. Tudo tingido pela auto ironia dos que conhecem tanto o estado de graça quanto a decepção das palavras goradas, para ser capaz ora de saltar ora de se atirar em queda.
Mas, se o leitor se divertiu um tanto nesta roda gigante, elevando-se até o sublime de Dante e do Oráculo de Delfos, e rebaixando-se até a pia da cozinha trincada, nem por isso está preparado para adentrar o “Circo de Horrores” da terceira parte, a mais poderosa investida contra as suas defesas. Se a primeira casa era póstuma, esta, paralela, é tumba de nascituros, onde insetos fantasmas zunem e picam. Sobre ela nos alimentamos, no banquete em que os convivas se entopem de veneno: “Os peixes são negros, as portas são negras/o céu escureceu, as flores despertam negras/e a brancura metálica e translúcida é de//arsênico”. Esmagados, descemos ao inferno e nos afogamos: “O espírito da morte no entanto paira/sobre toda a escrita/com sua tempestade sombria”. E não se pode retirar o ferrão cravado nos interstícios do texto. O peito do leitor se abre para agasalhar e acolher o alto sacrifício da poeta, maga e alquimista, transfigurando a ferida vermelha em voo azul: violeta.
Viviana Bosi
Ficha Técnica
Especificações
ISBN | 9788573215670 |
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Pré venda | Não |
Biografia do autor | Maria Lucia Dal Farra é uma poeta brasileira. |
Peso | 50g |
Autor para link | DAL FARRA MARIA LUCIA |
Livro disponível - pronta entrega | Sim |
Dimensões | 19 x 14 x 5 |
Idioma | Português |
Tipo item | Livro Nacional |
Número de páginas | 128 |
Número da edição | 1ª EDIÇÃO - 2021 |
Código Interno | 951479 |
Código de barras | 9788573215670 |
Acabamento | BROCHURA |
Autor | DAL FARRA, MARIA LUCIA |
Editora | ILUMINURAS |
Sob encomenda | Não |