A história recente do Oeste americano tem leituras diversas. O gênero western no cinema apresentou quase sempre o homem branco como o 'mocinho' e transformou o índio no 'vilão' da trama. Os índios desses filmes pareciam exóticos, selvagens, uma ameaça à ardúa colonização heróica promovida pelos europeus. Mais recentemente, vimos um grande interesse gerado em torno de rituais e práticas xamânicas, que se espalhou por centros urbanos a partir do final do século XX. Desde então, passamos a ver pôsteres e imagens de internet que apresentam indígenas num contexto idílico, idealizado, muitas vezes com fisionomias que mostram mais parentesco conosco - cidadãos de grande cidades brasileiras ou descendentes de europeus - do que com aqueles de quem emprestaram lendas e histórias evocativas. Mas há uma terceira leitura possível. Os grupos indígenas têm uma história de luta e sofrimento na América; o xamanismo, em suas sociedades de origem, é uma instituição inerente à tradição e cultura de povos seculares e está profundamente associado a cosmologias específicas herdadas de uma passado imemorial. Nessas culturas, as crenças compartilhadas formam a estrutura de toda uma civilização. Em busca desta leitura, os personagens índios de Ternura e Desejo procuram apresentar o seu lado mais humano, enriquecido pela compreensão do processo reencarnatório.