Eles eram três. Amigos e companheiros de militância, na política e no jornalismo, na poesia e no nativismo. Num certo dia, no distante março de 1980, montaram em seus cavalos e deram início a uma jornada que marcaria para sempre a maneira como viam o mundo - especialmente aquele universo particular que habitavam, o território mítico do pampa. Saíram de Santa Maria e só pararam 13 dias depois, 600 quilômetros mais longe, no interior de Jaguarão, perto da divisa do Brasil com o Uruguai. Em seguida, contaram o que viram - o pior bolicho do mundo, o homem que se esconde em si mesmo, a hospitalidade campeira, as frustradas tertúlias em volta do fogo de chão, as desventuras do Tigre (o bravo cachorro que os acompanhou). Mais do que isso, relataram um momento singular na história daquele pedaço de chão - a chegada da televisão e o esmagamento que a nova cultura de massa provocava no imaginário do homem do campo. Em outras palavras, eles fizeram um retrato da passagem do Rio Grande do Sul tradicional ao moderno.Tudo isso foi contado - em uma reportagem especial publicada originalmente Caderno de Sábado do Correio do Povo - com uma prosa em ritmo de galope e sempre em tom de causo. Porque nenhum dos três viajantes pretendia tirar da experiência da viagem uma tese sociológica (embora tenham passado perto). O interesse era jornalístico, o que importava era o registro do que se passou naqueles longos 13 dias. Por isso, também é um livro de aventura, o relato de uma viagem única, irrepetível hoje em dia. Hoje eles são dois - Luiz Sérgio Metz, um dos autores do texto, faleceu em 1996, aos 43 anos. Escritor e letrista cujo talento ainda não foi plenamente reconhecido, é autor de outros três livros. 'Terra Adentro' seria o quarto. No momento em que completam dez anos de sua morte, seus companheiros de travessia prestam a mais bela que um artista pode desejar - ter sua obra apreciada por leitores que não puderam acompanhar a jornada daqueles três homens. Terra adentro, tempo afora.