Você já se perguntou como uma atriz de cinema pode se transformar em vigarista? A história de Joan Lowell ilustra essa transformação de maneira fascinante, e esse é o enredo de Terra Prometida, uma reedição do relato intrigante da atriz estadunidense sobre sua aventura ao se instalar no Centro-Oeste do Brasil, na região de Anápolis (GO).
A obra, escrita originalmente em 1952, desafia as fronteiras entre a ficção e a não ficção, e destaca o talento de Lowell em criar narrativas convincentes que enganaram até mesmo as estrelas de Hollywood. A experiência da atriz causou furor na comunidade cinematográfica, e seus escritos serviram de propaganda para atrair outros artistas para o centro do Brasil. Sem demora, grandes nomes da indústria do entretenimento como Mary Martin e Janet Gaynor se instalaram em Goiás com a benção da autora-pioneira.
Como escreve o repórter Chico Felitti na orelha do livro: “Existe ficção. Existe não ficção. E existe uma zona cinza e misteriosa onde mora Terra Prometida”. Fascinantes e persuasivos, os escritos de Lowell nos levam a refletir sobre a credulidade humana e o poder das histórias bem contadas. Nesta nova edição, os recortes de jornal, as fotografias e os paratextos contextualizam e situam na linha do tempo o relato de viagem mirabolante. Escrito pela pesquisadora e tradutora Flora Thomson-DeVeaux, o preâmbulo revela as já controversas peripécias de Lowell antes de vir para o Brasil. Matheus Pestana, por sua vez, assina não apenas a tradução, mas também o epílogo, no qual detalha como a atriz conseguiu enganar outros artistas do show business, fazendo vendas fictícias e passando cheques sem fundos, e como acabou sendo desmascarada.
A saga descrita por Joan Lowell em Terra prometida consiste em uma crônica fascinante que relata sua chegada ao Brasil na década de 1930. Lowell, ex-estrela de Hollywood que contracenava com Charles Chaplin, pinta uma imagem vívida de suas supostas aventuras em seu desbravamento das terras de Goiás. São histórias repletas de encontros inusitados e personagens memoráveis, mas a linha entre realidade e ficção é quase sempre borrada, fazendo com que o leitor se indague se a história narrada por Lowell é de fato verdadeira.
O ápice dramático da trama ocorreu em julho de 1957, quando Lowell foi presa em Anápolis por estelionato. Como corretora de imóveis, a atriz arquitetou fraudes cometidas contra personalidades de Hollywood. A promessa de uma vida tranquila no Brasil despertou o interesse de estrelas como a diva da Broadway Mary Martin e seu marido, o produtor Richard Halliday, bem como Janet Gaynor, a primeira atriz a receber um Oscar, e seu marido Gilbert Adrian, o figurinista de O Mágico de Oz — casal retratado na capa desta edição. “Dona Joana” (como era chamada Joan Lowell pelos habitantes locais) acabou vendendo terrenos fictícios, o que resultou em um escândalo digno de roteiro cinematográfico. A habilidade de Lowell em persuadir essas figuras a investirem em propriedades inexistentes é um testemunho de seu talento narrativo e de sua capacidade de manipulação.