A procura do amor, a descrição da angústia do desencontro, a viagem da sensualidade, as facetas da experiência erótica, no sentido mais elevado da expressão, informam de maneira poderosa a literatura de todos os séculos. É a partir da aventura amorosa, da busca do outro, que, no limite, se confunde com a realização da própria identidade, que se localizam os contos de Eros Grau em Teu nome será sempre Alice. Não se trata de uma celebração festiva da carne: pelo contrário, Grau parece estar perfeitamente consciente de que, como seres condenados à linguagem, a fuga da solidão essencial esbarra num imenso muro de palavras.
As personagens do livro confrontam o amor por meio de uma miríade de imagens, por intermédio da jornada através da memória, em experimentos de voyeurismo, em reflexões sobre a natureza das relações humanas. Assim, há o fotógrafo que escreve sua história de amor através de suas lentes (a fotografia aparece de forma decisiva nos contos de Grau), o cadáver que, ao molde de Brás Cubas, se compraz em falar sobre a própria morte, musas buscadas e perdidas, ciúmes e vidas falhadas. Poemas, trechos de diários, digressões filosóficas, uma variedade surpreendente de técnicas narrativas são empregadas pelo autor.
Assim, muito informados e repletos de citações da tradição filosófica, da literatura, e das artes plásticas, os contos de Eros Grau se debatem, numa narrativa tortuosa e por vezes angustiante, no limite entre a prosa e o ensaio, como a relembrar que a forma mesma de expressão deve ser forçada em seus limites para que possa enfrentar as contradições poderosas da busca essencial do outro. Buscar o amor, enfrentar os percalços da paixão, confunde-se, portanto, com uma das indagações mais primitivas do espírito humano: aquela que anseia pelo sentido da existência.