Embora o título, Textamentos, exprima ideia de término, este não será com certeza o último livro de poesias de Affonso Romano de Sant’Anna. É todavia pertinente se considerarmos que os veios mais importantes do livro são poemas de amor ao amor e poemas de amor à morte. Os longos poemas como “A catedral de Colônia” e “A grande fala do índio guarani”, cujos temas versavam em torno da história, da vida social e política do país, substituem-se agora, em Textamentos, por textos curtos que aprofundam o intimismo e valorizam detalhes fundamentais como já era uma tendência em "O lado esquerdo do meu peito". O autor celebra a velhice, o entardecer da vida e a morte não como os poetas românticos, de forma mórbida, mas de forma pensada, vivida previamente, metafísica e cotidianamente nos amigos e vizinhos que se vão. Assim nos leva a compreender a velhice e a finitude como transformação física e ausência e nos induz a aceitar a inexorabilidade do tempo sobre nós. Affonso dessacraliza a morte enquanto confere à velhice o olhar erotizado da paixão. Com esse olhar, transforma também o amor em poemas, obras-primas de delicada sensualidade, em que o objeto do desejo é tantas vezes intocável.
Poemas inéditos, da época em que viveu em Los Angeles (1965-67) e quando lecionou em Aix-en-Provence (1980), são agora apresentados ao lado dos poemas de viagem a Grécia, Israel, países da América Latina e sobretudo Itália. Sobressai o conjunto intitulado Intermezzo italiano onde o cronista e poeta, que havia registrado em crônicas vários momentos de viagem, reverte as sensações para o texto poético, fundindo viagem interior e viagem exterior. Há uma interação entre o poeta e o cronista, um cruzamento intencional de linguagens e gêneros, uma autoapropriação de textos em que nos faz reconhecer que a poesia não apenas é um olhar interior sensível à música e às artes plásticas, sensível à vida e à morte, senão também o veículo por onde são realmente elaboradas nossas emoções.