A figura de São Thomas More é mais conhecida pelo desfecho dramático em que culminaram os seus dias. Guindado ao mais alto cargo público do Reino Unido, como lord-chanceler em tempos de Henrique VIII, soube renunciar às honras, aos proventos e à amizade do rei quando viu necessário opor-lhe um decidido “não” a propósitos que violavam a liberdade da sua consciência. Pouco se atenta, porém, até a leitura deste livro, para as raízes da derradeira atitude daquele que foi “o mais civil de todos os mártires”, na linha dos primeiros cristãos que caminhavam para a morte por serem também, como dizia More, “bons servidores do rei, mas de Deus primeiro”. Aqui, vemos como São Thomas More é um homem de caráter a toda a prova, forjado na delicada coerência com os princípios de fé sobre os quais, por uma opção amadurecida, decidira edificar a sua vida desde os anos moços. Homem de vasto saber, um dos grandes humanistas junto com o seu amigo Erasmo de Roterdã, homem de leis impoluto e de prestígio, ele desenvolve em todas as suas responsabilidades, como profissional, como chefe de família e como homem público, uma personalidade íntegra e harmônica em que os conflitos e os claro-escuros se superam, e os rumos se definem mercê de uma fé trazida como critério prático aos constantes incidentes da vida diária.