Um dia, Lívia se olha no espelho e vê um vão entre si e seu reflexo. Com o tempo, o vão aumenta, como se sua imagem desaparecesse aos poucos. Ela entende que já não está mais ali. Seu corpo, no entanto, insiste em esbarrar nos móveis, mostrando que continua presente, o que faz com que seu apagamento não seja percebido pelas pessoas ao seu redor. Rosa é uma mulher bonita que leva uma vida de conforto num casamento estável com dois lindos filhos e enlouquece no dia de seu aniversário de quarenta anos. Medeia erra pelas ruas numa fuga noturna e labiríntica na qual se depara com uma mendiga e sua criança, uma figura misteriosa. Uma mulher sem nome pare sozinha em casa, tem a sensação de estar sendo devorada por dentro pela própria cria e descreve a percepção da maternidade como uma inversão do quadro de Goya, “Saturno devorando um de seus filhos”. Todas estas histórias estão interligadas, elas parecem ser desdobramentos de uma diegese coletiva que conta das muitas formas de desbotamento e desaparecimento da mulher quando passa à condição de esposa e mãe numa sociedade ainda patriarcal. A rede que conecta as personagens alinhava assombros ancestrais impostos às mulheres, tocando num tema que é um dos últimos tabus da nossa sociedade: o sentimento de infelicidade diante do papel de mãe e a consequente rejeição à maternidade.