Não existe transformação possível se a travessia for serena. É o que parece nos dizer esta obra de Marco Severo que você pode estar prestes a ler. Em cada conto, em cada personagem, situações colocam o ser humano confrontado com o mundo à sua volta e consigo mesmo. Reunidas nestas vinte histórias estão o medo, a loucura, a infância amarga, a velhice decrépita, a desesperança, a morte. Mas não só, porque falar dessas coisas é também tratar do seu oposto.É assim que o leitor entrará em contato com a paz advinda do aprendizado amoroso, as descobertas dos muitos eus que nos habitam, o recomeço após perdas debilitantes, a esperança que não se perde nunca. São histórias de homens e mulheres soltos no inescapável labirinto da vida, por onde ninguém passa incólume. Para além do devir inerente ao ser humano em sua imensa capacidade de mutação, esta obra perfaz no leitor o trajeto de volta, o olhar generoso para com as vivências possíveis, a delicadeza que existe em cada gesto.É também um livro que provoca, ao nos fazer refletir sobre as possibilidades daquilo que faz ser quem somos ou podemos vir a ser, se estivermos inseridos nas circunstâncias que nos exigem atitudes que, muitas vezes, só sabemos ser capazes de tomar diante do fato. Entrar neste universo é abrir-se para o que existe de mais desconhecido em nós mesmos, é ser tocado pela ficção e atravessado pela realidade. Aqui, naufrágio não é fim, é possibilidade de começo. Ou de recomeço. Chegar a um lugar diferente do que se espera é uma das possibilidades de ser. Em meio a isso tudo, uma narrativa sedutora, capaz de arrebatar o leitor desde as primeiras linhas e envolvê-lo num abismo de sensações evocadas a partir do impacto causado por cada uma das histórias. Todo naufrágio é também um lugar de chegada é sobretudo uma obra para quem quer ler histórias memoráveis, contadas por um escritor de prosa incendiária.