O corpus (d)escritos e seu erótico. Que o leitor não procure nesta literatura uma estória ou narrativa: nada aqui se conta. Que não tente decodificá-la como se escrita em estranha linguagem estivesse: não há significado oculto que organize esta escrita. Que não se espante com sua aparente ininteligibilidade: mensagem alguma se pretende comunicar aqui. Estes textos, cujo sentido se refaz a cada leitura, a cada trecho, submetido à ambiguidade e ao acaso, se iniciam como escrituras sobre escrituras: mas não há traço que aqui permita reconhecer a revista sobre a moda editada por Mallarmé ou um antigo dicionário chinês sobre cerâmicas, para citar só alguns dos textos originais. Esta literatura, no entanto não é feita apenas de reescrituras dotadas de vôo solo, gerando textos próprios. Há textos outros que reescrevem os corpos. O fio condutor? Um (quase) mimetismo da escrita, mas que longe de tentar imitar o erótico, nesta trajetória dos corpos ao corpus (escritos), a ele se assimila na sua fragmentação e incompletude, anonimamente, até desembocar em uma romanza solar. Textos espessos, de difícil leitura, humorados por vezes, poliglotas freqüentemente, a demandar um leitor capaz de suportar um (quase) sentido, movente e vago, no mero prazer - e é pouco? - de uma surpreendentemente boa literatura.