O livro que o leitor tem agora diante de si recolhe traços que estão nos programas filosóficos próprios dos autores que o livro evoca: Bergson, Sartre, Merleau-Ponty, Ricoeur, Deleuze, Foucault e por fim um diagnóstico preciso da fronteira imediatamente atual desse pensamento francês. Mas também estão nos temas a eles associados, a intuição e a duração, o vivido, a finitude, o sentido, a revisão das principais categorias políticas e históricas implícitas no pensamento dialético como compreendido pelos franceses, a fenomenologia em chave francesa, a unilateralidade do anti-humanismo. Portanto, para os leitores, o livro terá pelo menos duas utilidades, dependentes da natureza do leitor mesmo. Para o leitor iniciante, que quer compreender ou avaliar algo da discussão filosófica feita em língua francesa no século XX e sua sucessão no século XXI, segue-se uma série de capítulos esclarecedores e indicadores de algumas das principais linhas de força daquele pensamento. Para o leitor experimentado, ficará mais claro o diagnóstico tácito cujo encontro recíproco dos capítulos autônomos deste livro acabou desenhando. Poderia haver ainda um terceiro tipo de leitor, que tomasse de nós a distância que tomamos de nossos objetos. Para esse leitor, fica sugerida a experiência literária de imaginar que textos nos legariam os micrômegas de Voltaire ou os antropófagos de Montaigne, sobre os próprios Montaigne e Voltaire, se eles também tivessem o costume de escrever ensaios.