A possibilidade e o desejo de construir um mundo com as palavras, move todo autor. E também a vontade de partilhar essa construção, essa visão. Muito além de explicar o universo, quer registrar o olhar que lança sobre ele. Um olhar que é próprio, mas que procura fazer parte de outros olhares, um olhar que amplia ou foca, um olhar que, transformado em palavras, pode criar e alterar o que nos rodeia. Adília Belotti, em 'Toques de Alma - um olhar feminino', faz mais do que isso. Mais do que ampliar, focar, criar ou alterar, encanta. Encantamento fundamental à alma em tempos tão bicudos. O deslocar para um lugar mais etéreo e lírico fica patente desde o início, na seleção de crônicas 'sobre olhares e palavras', quando a autora enche de magia as palavras e o olhar nosso de todo dia. Falando 'sobre mulheres' - às vezes temos a impressão de ouvir mesmo sua voz - (en)canta todas elas, mães, filhas, velhas, bruxas e vai ainda por assuntos que interessam às várias mulheres dentro de cada uma. A magia quase se materializa nas crônicas de 'olhares interiores', quando aborda filosofias e trata de tópicos fundamentais ao espírito humano. O não-concreto se torna crucial e mais real que o real. Assuntos corriqueiros nunca mais serão os mesmo depois da seleção 'simples olhares', onde a gula e o medo de dormir, entre tantos outros, ganham olhares insuspeitos e ultrapassam, em muito, a fronteira do banal. Alguns mitos e histórias arquetípicas, presentes em toda a trajetória proposta pela autora até aqui, fazem ampliar o poder deles em nossa própria história. Toda essa viagem mágica é pontuada de citações e interpretações de outros autores, filósofos, psicólogos e pensadores.