Na década de 1970, a cidade de Teresina, capital do Piauí, vivenciava a explosão de transformações que deslocavam os sujeitos de seus lugares tradicionais. Dividida entre o provincianismo de uma capital nordestina e a emergência de uma pós-modernidade nascente, era comum que questões de cunho ético, estético e comportamental, bem como as relações de gênero e as artes, vivessem uma turbulência trazida por símbolos como a pílula anticoncepcional, a minissaia, as perambulações hippies, o movimentotropicalista e os festivais de música. Nesse contexto, um grupo de jovens teresinenses movimentava-se entre produções culturais alternativas jornais nanicos, filmes experimentais feitos em super-8, dentre outras , que, além de dar a ver suas formasmarginais de lidarem com o mundo, tomavam um outro jovem como ícone: o poeta e letrista teresinense Torquato Pereira de Araújo Neto. Anjo torto da Tropicália, errante e controverso, Torquato teria, através de suas palavras-cilada, supostamente, lançado dicas existenciais tomadas por seus contemporâneos como elementos para uma articulação profunda entre arte e vida. Em que medida, no entanto, existia uma suposta Geração Torquato Neto configurada na capital piauiense? Tomando a expressão famosa de Caetano Veloso, existimos, a que será que se destina? São essas questões que mobilizam as linhas desse livro, que objetiva percorrer as diversas subjetividades juvenis na cidade, ao mesmo tempo seguindo as pegadas de Torquato e colocando em suspeição a apropriação feita do anjo torto pelos teresinenses de seu tempo e além.