Uma mudança repentina de casa altera por completo a vida de um garoto de apenas 8 anos. Privado dos amigos e do que mais gostava, passou a morar dentro de um bar, no alto de um morro íngreme, na beira de uma rodovia. Das brincadeiras e do tempo dedicado aos amigos, passou a trabalhar 9 horas por dia, sábados, domingos e feriados e aprendeu rapidamente o significado das palavras distância, vazio e solidão. E ainda tinha que lidar com um incômodo que o humilhava quase que diariamente. Até que uma evoada de pombos, que fugia de um gavião faminto, pousou no telhado de sua casa.
Enxergou no voo vigoroso do bando a única possibilidade de liberdade e de dar sentido à vida sórdida que vivia, desde que foi confinado naquele ninho de águia, sem asas para sair ou chegar. Maravilhado com o que viu, decidiu que queria tê-los como novos amigos. Por acaso, descobriu onde poderia conseguir alguns exemplares e iniciou uma criação sob a oposição severa da mãe.
Encontrou em Biu - um homenzarrão culto e abandonado, ora bêbado, ora sóbrio e que prestava serviços esporádicos para a família -, a única pessoa a apoiá-lo e ajuda-lo em seus planos. Mas uma nova mudança, desta vez de cidade, colocou em xeque tudo o que arduamente havia conquistado.
Nessa história de privações, abandonos e solidão, Mardoqueu nunca abandonou ou esqueceu os amigos e primos deixados em Pedra do Lobo. E, à sua maneira, carregou-
os consigo para o resto da vida.