orrente é um livro sobre o amor. Mas que ninguém se engane com a aparente simplicidade dessa definição — o romance-tempestade de Vanessa Malagó apresenta as relações amorosas a partir daquilo que elas têm de mais desafiador: a impossível compreensão total do outro. “Era isso que ela queria dizer, não era?”, pergunta um dos personagens, como quem formula uma síntese da sinuosidade que embala a narrativa. O sentido da incompreensão e a consciência da incomunicabilidade se manifestam de maneiras distintas em cada um dos três relacionamentos que protagonizam a trama. Em qualquer idade, em qualquer configuração, mais ou menos condizente com a norma, o arrepio da paixão vem daí. Da impossibilidade de penetrar o silêncio do outro e seus mistérios, e mesmo de formular racionalmente os turbilhões emocionais internos. É uma marca do romance a insistência no diálogo ainda assim, tão fundamental para que as experiências de amor aconteçam. A autora não apenas considera a singularidade de cada forma de amar, mas também aproveita essa autonomia amorosa como matéria literária, fazendo do potencial infinito dos sentimentos o elemento narrativo que alinhava as histórias contadas num emaranhado de profundezas. Livre, como água que corre em abundância, seguindo seu curso próprio, o amor se faz neste livro.
Tamy Ghannam