TRABALHO REPRODUTIVO E FORMA JURÍDICA

Promovendo um diálogo muito competente entre a teoria da reprodução social, lida a partir da recuperação de suas origens althusserianas, e a crítica pachukaniana da forma jurídica, este trabalho de Marianna Haug já nasce como uma referência incontornável para os estudos sobre opressão de gênero no Brasil. Ao demonstrar como, no modo de produção capitalista, a contratualização da forma familiar a partir do casamento reproduz peculiarmente neste âmbito a forma ideológica tipicamente capitalista e de ne os papéis de gênero assimilando as clivagens - que pertencem às aparências internas da ideologia jurídica burguesa - entre trabalho produtivo e reprodutivo e as esferas pública e privada, Marianna Haug assenta as sólidas bases teóricas sobre as quais debate as novas estratégias de opressão de gênero e exploração do trabalho reprodutivo que caracterizam a fase neoliberal do capitalismo. Com isso, supera-se a perspectiva limitadamente identitária das pesquisas de gênero para demonstrar sua interpenetração profunda com a perspectiva da luta de classes. O texto de Marianna Haug abre, assim, novas perspectivas de pesquisa teórica e ação política no âmbito das relações de gênero. Flávio Roberto Batista | Professor Doutor Livre Docente da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP)