Narrar o Círio de Nazaré por meio da fotografia é uma possibilidade de perceber a multiplicidade de uma manifestação que se atualiza como um acontecimento singular, mesmo após 229 anos de sua existência. Possibilitar esta narrativa através de uma fotocartografia é atentar para as forças que fazem o Círio emergir como uma festa cultural, artística, religiosa e, sobretudo, popular; percebendo os jogos de interesses presentes na relação com as racionalidades que tentam dizer sobre a manifestação e as posições de sujeito que aparecem como efeito dos discursos legitimados que objetivam se apropriar e privatizar a festividade em naturalismos e essencialismos, reproduzidos na prática fotográfica afirmada como registro e inventário da realidade. No entanto, estes escritos também apontam as resistências e as linhas de fuga que escapam dos enquadres disciplinares e biopolíticos presentes na mercantilização do Círio de Nazaré através do empresariamento da cultura. Ao apresentar o fotografar como prática inventiva busquei esse lugar íntimo de comunhão com o divino observado na devoção popular que homenageia Nossa Senhora de Nazaré nas comidas típicas; na Festa da Chiquita; nos vocativos carinhosos: Naza, Nazica, Nazinha; na corda de promesseiros que puxam a Berlinda com a Santa, enfim, nas profanações que fazem do Círio o encontro entre o humano e o divino, pois profanar, aqui, não é um ato de desrespeito ou de indiferença, mas de integração com o sagrado. Assim a fotografia profana! A fotografia profana o Círio ao reconhecer e mostrar sua diversidade.