Quando, no fim do século 19, a forma dramática baseada no diálogo e nas ações decorrentes de relações intersubjetivas entra em crise pela incapacidade de expressar a situação do sujeito no contexto social, o foco da dramaturgia volta-se para o sujeito isolado e introvertido. Essa forma de representação viria a caracterizar não apenas o teatro, mas a arte moderna em geral. Esse sujeito, transformado em “coisa”, peça da engrenagem industrial, ao poucos vai perdendo a capacidade de diálogo e vê sua vontade de agir cerceada pelo sistema socioeconômico decorrente do avanço do capitalismo industrial. Com a rarefação do diálogo o drama sobreviveria transformando-se. Daí, o teatro moderno ser povoado de personagens introvertidas e autocentradas, mais afeitas ao monólogo. Neste livro aautora busca entender o teatro moderno a partir de personagens que carregam essas características – o protagonista do drama homônimo de Auguste Villiers de l’Isle-Adam (1838–1889), o misantropo radical Axel, que renuncia à vida para não ver frustrados os seus sonhos; e o ícone do homem atual, ou seja, o homem solitário e oprimido pelo mundo circundante, figurado em O grito (1893), quadro do pintor norueguês Edvard Munch (1863–1944). No decorrer da obra ela aborda criações que compõem a história do moderno teatro português entre o fim do século 19 e as primeiras décadas do 20. Entre os autores analisados, estão Eugénio de Castro, Manuel Teixeira-Gomes, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, António Patrício, Raul Brandão e Branquinho da Fonseca.