“Compreende-se por verso – ou metro – o ajuntamento de palavras, ou ainda uma só palavra, com pausas obrigadas e determinado número de sílabas, que redundam em música.
“Vejamos, antes de tratar das diversas espécies de versos, que em português, mais que em qualquer outra língua, se cultivam o que se entende por sílabas e por pausas.”
“Para o gramático, todos os sons distintos em que se divide uma palavra são outras tantas sílabas, sejam estes sons uma simples vogal, um ditongo ou uma vogal seguida de uma ou mais consoantes, que batam justas, quer lhe fiquem antes, quer depois, quer lhe fiquem de permeio, como, por exemplo, em pó, se, luz, quer, finalmente, seja um ditongo com consoantes que lhe dêem articulação, como em cão, rei, cães, reis etc.
“O metrificador, diferentemente, apenas conta por sílabas aqueles sons que lhe ferem o ouvido, assinalando a sua existência indispensável. Quanto aos sons vulgares da linguagem e audição comum, estes lhe passam completamente despercebidos, porque não formam sílabas, e são como se não existissem.
“Para o gramático, a palavra representa sempre o que é precisamente: nada lhe importa o ouvido. O metrificador não se preocupa senão com o ouvido e com o modo como a palavra lhe soa.
“Querem ver como o gramático e o versificador diferem? Um pequeno exemplo é bastante. Um nada omite na palavra; o outro, de tal modo, até na recitação a enuncia, que os diversos tons são absorvidos uns nos outros, de sorte que, só depois de escrito o vocábulo, se pode perceber qual a sua constituição silábica.”