Edelmar nos apresenta Três pontos, uma primeira coletânea de seus poemas, criados a partir do final dos anos setenta. Até hoje, seus “escritos”, como ele os chama, circularam dentre familiares e amigos, que incentivaram o autor a ampliar o círculo de seus leitores. Aliás, Edelmar não se considera um poeta nem um escritor, mas um “descrevedor” de suas experiências, percepções, sonhos e memórias. A perspectiva fica clara no poema-apresentação “Instante para pensar”, em que nos anuncia sua biblioteca pessoal de momentos vividos, de fragmentos constitutivos de sua história. Esses momentos se organizam em três pontos: o primeiro é um conjunto de poemas sobre amor e paixão, de tom romântico e levemente erótico, que o autor identifica como a expressão de sua emoção; o segundo conjunto se intitula Tempo e articula experiências sonhadas/vividas, na mistura de vários reais que se confundem e aparecem/desaparecem, e que o autor busca resgatar da fugacidade pelo esforço sempre fracassado da memória; e o terceiro, em que os poemas se integram pela noção de espaço: são lugares reais, simbólicos, imaginários, buscados e perdidos, que condicionam as experiências e os desejos. Os três pontos da biblioteca de Edelmar têm muito em comum: um tom nostálgico de quem busca algo, de quem vive “praticando saudades”, de quem sente a vida como encontro e perda, contato e distância, voz e silêncio, momento e continuidade. A aguda percepção da passagem do tempo permeia cada um dos poemas e se expressa na melancolia que está por trás até das experiências mais intensas: as do corpo da pessoa amada, das montanhas, da chuva, da solidão, do passado povoado de lembranças, da velhice sua e de outros, dos sonhos destruídos. Se eu fosse buscar aquilo que une os escritos de Edelmar, diria que constituem uma tentativa, pelo exercício da memória desdobrada em palavras, de recriar seu caminho, sua viagem, de localizar o eu no mundo, mas com a consciência de sua impossibilidade. Ana Lúcia Almeida Gazzol