O ciclo de movimentos reivindicatórios dos policiais militares brasileiros, ocorrido no final do primeiro semestre de 1997, é o assunto de Tropas em Protesto. As manifestações dos praças da Polícia Militar de Minas Gerais tornaram-se um estandarte tático para a ação coletiva dos PMs de diversas localidades do território nacional, em um processo estudado de maneira minuciosa pela historiadora Juniele Rabêlo de Almeida. Doze estados integraram o primeiro ciclo nacional de protestos: Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul; e, sem movimento organizado, São Paulo e Rio de Janeiro. No livro, narrativas de história oral revelam o diálogo entre as especificidades regionais (PMs estaduais) e uma cultura policial militar nacionalmente constituída. Múltiplas questões ligadas à história dos movimentos sociais e à segurança pública no Brasil são problematizadas pela autora por meio de quatro redes de análise, que indicam diferentes repertórios da ação coletiva policial militar: o início do ciclo de protestos; conflitos armados e ameaças; acampamentos e negociações; manifestações disciplinadas e articulações políticas à margem do ciclo de protestos. Em seu fascinante trabalho, Almeida delineia como a crise policial militar brasileira representou uma conjuntura em que elementos próprios da corporação se desgastaram, mas não o suficiente para minar as bases institucionais. Extremamente atual, o livro indica possíveis conexões entre uma cultura policial militar (expressa pelos preceitos militarizantes referentes a valores e normas institucionais) e preceitos relacionados à democratização que se passa no Brasil contemporâneo.