Conhecer os integrantes da etnia Tsimane foi uma das experiências mais ricas que tive. Observar a capacidade desse grupo indígena de atuar sobre a natureza, trocar saberes entre si e com os poucos visitantes a quem seu território é franqueado, planejar rotas, adaptar caminhos, explorar rios e matas, caçar, colher e, sobretudo, pescar com arco e flecha. Os Tsimane são um povo indígena que habita um vasto território no departamento de Beni, na Bolívia, especialmente ao longo do rio Beni, que nasce no norte de La Paz e atravessa toda a Amazônia boliviana antes de afluir ao rio Mamoré, mais conhecido dos brasileiros. Estima-se a população total do grupo em torno de 9.000 pessoas. Falam duas línguas próximas, também conhecidas como mosetenes. Em 2007, essas línguas foram declaradas patrimônio nacional boliviano. Isso não é de pouca relevância no país que, em sua Constituição, declara-se um Estado plurinacional e que adota diversas leis de promoção às diferentes etnias que compõem um espaço cultural marcado pela diversidade e o desenvolvimento de culturas como as reunidas sob a coordenação das Organizações Naturais do Povo Tsimane-Mosetene, que, entre outras missões, tem a de implementar a língua e o alfabeto Tsimane para as novas gerações de habitantes desse território. O registro escrito é, no entanto, apenas parte do que um povo produz de cultura- suas atividades diárias, seus gostos, organização espacial, confecção e uso de instrumentos, entre outras tantas coisas, são patrimônios imateriais que a humanidade como um todo deve defender. O registro fotográfico que Aline Vieira realizou desse grupo indígena e do Território Indígena Parque Nacional Isiboro Secure (Tipnis), em que vivem, não encanta apenas pela poderosa beleza do cotidiano na selva, que ela capta tão bem, mas também como documento de um modo de viver e de organizar o tempo, portanto, de pensar, de todo um povo. Na observação atenta dessas fotos, fica ainda mais evidente o quando é essencial admirar e compartilhar de saberes únicos, que nos tornam ainda mais humanos.