A obra que Rodrigo Meira Martoni consagra à teoria crítica do turismo constitui uma grande honra para os que se dedicam à pesquisa e à reflexão. Além disso, ela é para mim uma fonte de emoção e de esperança, porque aparece exatamente 21 anos depois da dissertação que apresentei em 1998 e que introduzia a questão do método como um problema central para uma epistemologia do turismo. Falar do turismo como uma teoria social, elevando-o a um objeto de conhecimento, constitui uma autêntica provocação que pode apresentar-se em cenários intelectuais diversos, cuja unidade sobre seu aporte de cientificidade, no entanto, ainda não foi estabelecida. Ao ouvir a palavra "turismo", há quem se sinta tomado por desdém quanto a sua reflexão e teorização, fato que leva à adesão a uma posição "reificada" ou promove a ilusão de que a realidade é somente o percentual quantificável ou experimentado pelo "eu". Assim, o turismo reduz-se à reprodução das práticas expressas pela gestão dos destinos, planejamento de produtos, criação de roteiros, políticas de ocupação de espaços, estudos de oferta e demanda e relatos de experiências inusitadas de turistas em lugares exóticos. A obra em tela é um exercício intelectual de superação e de desmistificação do turismo como objeto desenraizado da materialidade social. Na construção de uma trilha de superação das análises positivistas, o autor, na perspectiva materialista-histórica-dialética, apresenta sua tese compreendendo o turismo "como importante controlador social ou uma espécie de instrumento de restrição à liberdade". Ao ser absorvido como mercadoria, reduz-se a um processo de compra e venda, em uma dinâmica na qual as próprias necessidades humanas acabam situadas em segundo plano no conjunto das relações sociais. O prosseguimento da análise atualiza, com muita competência, a importância de outra ética nas relações de produção sob o prisma da justiça, a qual seria formada a partir das contradições e dos antagonismos próprios à "ética" capitalista, e não pura e simplesmente pelas ideias. Nesse sentido, o autor expõe e questiona as formas de exploração do trabalho no setor pelo capital e aponta suas diferentes expressões e implicações sociais e espaciais. Assim como a ética individualista trata as questões que formam o espaço apropriado pelo turismo, maximizando a lógica do capital enquanto relação social – como força objetiva e racional de e para uma classe que domina –, tal processo invade subjetividades, via alienação, e acaba por desencadear uma ideologia privatista, competitiva e cada vez mais coisificada – marcas das práticas do mundo do trabalho alienado em um espaço em que a hospitalidade deveria ser sua essência. Por fim, mas não menos denso e instigante, o texto atualiza seu leitor com uma apurada análise quanto ao Método Dialético. Pois, sendo a sociedade capitalista uma totalidade concreta e não simplesmente um "todo" constituído por "partes" funcionalmente integradas, o turismo somente pode ser compreendido em sua complexidade tendo como pressuposto tal forma de sociabilidade, a qual precisa ser conhecida. Esse procedimento epistemológico – o Método Dialético – permite, de forma ousada, elevar o turismo a uma teoria social, e compreender o objetivo proposto: "transcender as aparências naturalizadas e fetichizadas do turismo – e da produção teórica em turismo – com vistas ao conhecimento em sua dimensão de essência". Em tempos fortemente marcados pela indiferença e pelo cinismo, tanto em nível ético quanto epistemológico, o autor nos dá uma bela trilha para o enfrentamento e expõe as bases reais de construção de outro turismo possível!