Ao nos aproximarmos do bicentenário da Independência de 1822, é muito oportuno revisitar autores que foram e são protagonistas na intrincada experiência da emancipação brasileira. Robert Southey, com sua História do Brasil, ocupa posição destacada neste seleto grupo. O livro da historiadora e professora da Universidade Federal de Santa Catarina, Flávia Florentino Varella, reconstrói com erudição e inteligência os sentidos da obra de Southey para a formação da experiência da história no Brasil. Publicado entre 1810 e 1819, sob o impacto da transferência da corte portuguesa em 1808, em seus sucessivos volumes a autonomia da história do Brasil foi proclamada bem antes do Grito do Ipiranga. Southey inicia a sua introdução com a seguinte promessa: ”descoberto o Brasil por acaso, [...], foi pela indústria dos indivíduos, e pela operação das comuns leis da Natureza e da Sociedade, que se levantou e floresceu este Império, tão extenso como agora é, e tão poderoso como algum dia virá a ser”. Mesmo que pudesse discordar do caminho revolucionário tomado pela emancipação em 1822, Southey ajudou a imaginá-la e pensá-la, como o leitor poderá acompanhar neste livro.Flávia Florentino Varella revisa interpretações sobre a obra de Southey já bem estabelecidas, oferecendo novas chaves de leitura que renovam e complexificam nosso interesse pelo autor. A autora compreende a História do Brasil de Southey não como uma unidade homogênea, mas como um todo formado de partes que se combinam sem perder cada uma delas seus contornos e sentidos em outros conjuntos. Temas como as teorias dos estágios civilizacionais, o processo de miscigenação e o impacto do ambiente sobre a história são recuperados como contextos essenciais para a compreensão da obra e seu impacto nos contemporâneos.Pode parecer ao leitor que se trata de mais uma pesquisa erudita que interessa apenas aos especialistas, mas, como a autora ressalta, muitas dessas peças argumentativas acoplaram-se de modo permanente na linguagem qu