Francine não conhece mais o próprio filho. Um NÃO escrito num papel — três letras e um til na caligrafia inclinada do Cláudio — como um ponto de partida para a incompreensão. Cláudio não cuidava direito do adorado sítio da família. Cláudio não passava os fins de semana com a mulher e o filho. Cláudio estragou as suas finanças. Cláudio abdicou da sua vida. Cláudio fazia o que não se pode entender. O que, afinal, o Cláudio fazia?
Sentindo-se isolada no Rio de Janeiro, depois da morte precoce do filho caçula, a viúva Francine decide se mudar para o sítio da família no vilarejo de Sebastião de Ararampava, na Região Serrana do estado. O seu objetivo era encontrar algum conforto nas memórias de um tempo em que ela, o marido Antero e os filhos Vicente e Cláudio viviam juntos, um tempo em que era possível entender quem eram os seus e o que faziam. Mas, àquele NÃO escrito no papel, juntaram-se outras perplexidades, trazidas pelas observações de Francine, pelas conversas com os habitantes do vilarejo, por lembranças até então sufocadas ou agora reinterpretadas.
Não há conforto em Ararampava. Não é possível deixar Ararampava. Cláudio está morto, e Francine quer tentar compreender quem ele era.
Romance de ideias em prosa transparente, Um caminho particular do futuro trilha rotas insuspeitas que ligam o certo ao errado, conforme são abertas por uma busca individual de entendimento. O radicalismo onde só se notava temperança, a intrepidez de quem só se sabia fraco, a grandeza quando só se podia supor a mesquinhez, numa obra em que os extremos se sobrepõem numa dinâmica sutil e, acima de tudo, ingovernável. Pois, ainda que a palavra queira guiar o destino, o futuro não se deixa levar por todos os caminhos.