No verão de 1995, a jornalista americana Marlena de Blasi estava casada há apenas nove meses com um veneziano, quando uma revista acadêmica a encomendou um artigo sobre as regiões do interior da Sicília. A autora conta que na época, já havia escrito longamente sobre as cidades e os vilarejos costeiros. No entanto, ela desconfiava de que não fora a primeira escolha do editor entre os jornalistas qualificados que escreviam em inglês. Ainda antes de partir, teve suas suspeitas confirmadas: "Diversas pessoas já tinham recusado o trabalho, incluindo o redator da equipe, que vivia na Sicília havia mais de uma década. O motivo? O mesmo que outros colegas já tinham utilizado para me alertar: o centro da ilha é um lugar remoto e intransitável, o silêncio colossal da região se reflete em seus habitantes. Eu lhes respondera que o silêncio é o reconhecimento do mistério. E o mistério é bom. As advertências serviram apenas para despertar minha curiosidade". E como já esperava, encontrou também o silêncio entre os venezianos com quem tentou conversar. Até mesmo importantes entrevistas agendadas pelo editor da revista foram ignoradas ou esquecidas. O roteiro meticulosamente traçado foi marcado apenas por silêncios, portas fechadas e um épico calor: "Me rendi. Telefonei ao editor para lhe dizer isso. Até mesmo da parte dele houve silêncio. Deixando de lado a obrigação do trabalho, meu marido e eu decidimos sair das montanhas e ir para o sudoeste, na direção de Agrigento." Em Um Certo Verão na Sicília, o casal descobre a misteriosa Villa Donnafugata, onde passam um mês aprendendo a história dos habitantes do vilarejo: lavradores locais que se tornaram solitários, viúvas, viúvos, que trabalham, cantam, rezam e brincam numa ensolarada paisagem de torres, sacadas, hortas, campos e colinas. Com serviço de saúde com enfermeiras e médicos que fazem visitas, lá as mulheres são como irmãs. Em grande parte, eram vizinhas no vilarejo ou trabalharam nos campos, lado a lado, durante a vida toda. "Somos todas parentes por afeição. Somos parte das histórias umas das outras. Nós somos sicilianas", afirma uma das moradas locais à autora. Ao longo do livro, Marlena revela os hábitos encantadores dos moradores da Villa Donnafugata e os segredos de sua bela e misteriosa proprietária, a signora Tosca Brozzi, que vive no lugar há mais de trinta anos, desde que seu pai a trocou por um dos cavalos do príncipe Leo, quando ela tinha 9 anos. Sua raiva inicial deu lugar a carinho e, depois, amor pelo príncipe. Juntos, depois da Segunda Guerra Mundial, Tosca e o príncipe levaram educação, bem-estar e um novo conceito de propriedade ao vilarejo que dependia das terras do nobre. No entanto, Leo acabou sendo punido pela Máfia por afrontar a hierarquia secular que mantinha os ricos no conforto e os pobres na miséria.