As pequenezas da vida. Coisas à primeira vista desimportantes. Bonitezas singelas desapercebidas na correria dos dias. Tudo isso é servido em “Um diário para as estações” como grandes acontecimentos, contornados de beleza e relevância, por uma escritora que não se veste com o título, mas desfila desenvolta uma estética literária característica dos grandes cronistas.
Recheada com o que a autora chama de “narrativas fantásticas do real”, a obra reúne em 92 páginas escritos que Mariam colocou no papel por dias a fio ao longo de um tempo marcado por estações do ano, meses, semanas, dias, horas, momentos, frações de segundos de contemplação da vida. Um diário. Mas não como simples retratos dos dias.
“Pontuo isso porque não é um diário com compromisso de fidelidade aos fatos. A realidade é apenas ponto de partida para as reflexões que registrava. Os desdobramentos muitas vezes são fruto de uma imaginação, uma invenção, intencionada ou não, de como a vida é ou poderia ser entre um acontecimento e outro”.
Alguns textos foram escritos em correspondências trocadas com uma amiga, a artista visual Lara Ovídio, entre os anos de 2016 e 2017.
“Nós duas compartilhamos este hábito de escrever diários. E nos correspondíamos com frequência, trocando observações sobre o tempo, sobre a vida, sobre pequenas coisas do cotidiano”.
Tempo, aliás, é a principal matéria-prima que a paulistana de 32 anos utiliza para construção das suas narrativas. É no encalço do seu decorrer que a autora realça o que de tão corriqueiro não merece alarde, contudo pode, e deve, ser apreciado, num exercício diário que a faz notar, por exemplo, o passeio da luz pelo assoalho de casa nas diferentes estações do ano; a presença de melancias nas feiras de rua próximo à primavera; as goteiras do céu de Brasília, indignas de serem chamadas de chuva; os efeitos do calor infernal do Rio na rotina de quem habita a capital fluminense, entre outros insights.
“Um diário para as estações” conta ainda com ilustrações de