A você que toma este livro nas mãos, convido-lhe ao exercício da leitura atenta de seu título e subtítulo. Em que medida ou por que “um governo por conselhos” estaria relacionado com as províncias e o Império do Brasil logo após 1822? Permito-me colocar a questão, pois creio que ela mesma, considerando a descortês situação de não lhe poder escutar, conduz-nos ao cerne do tema e dos problemas apresentados pela obra. Hoje é já sabido entre aquelas e aqueles que se dedicam ao tema da Independência que, embora ela pareça uma solução frente às tensões existentes no Império português, sua opção instaurou um problema do ponto de vista da criação de uma nova unidade política. Mais do que isso, que a alternativa da Independência não foi unânime; que houve guerras, disputas e conflitos, cada vez mais estudados. No entanto, as formas de experimentação sobre como deveria ser o governo das províncias no Império do Brasil conquistaram menos os olhares da historiografia. Não por serem menos importantes, mas por estarem erroneamente associados a um tipo de história das instituições que tende a ser considerada vetusta e tradicional. Este livro de Renata Silva Fernandes é um excelente exemplo de como essa história pode ser significativa e inovadora na forma de olhar o que se chama aqui governo. Primeiramente, por analisar um campo de disputas sobre como ele deveria ser e funcionar, envolvendo a própria criação das províncias. Em segundo lugar, por descortinar como se governava naquele momento, por meio de instâncias colegiadas, que diziam muito acerca das formas culturais do funcionamento político existente. E terceiro, e fundamental, por analisar os modos como os agentes sociais interagiam com os novos órgãos, por meio, sobretudo, de uma infinidade de petições que a autora organiza de forma inédita para Minas Gerais. Um governo por conselhos: as províncias e o Império do Brasil (Minas Gerais, 1822-1834) é uma valiosa contribuição para a história, mas igualmente para pensarmos nossa relação com os poderes públicos.